PET - Roda de conversa com Ueslei de Oliveira
- PET Letras UFGD
- 23 de mai. de 2023
- 4 min de leitura

"Se tu vens, por exemplo, às quatro da
tarde, desde as três eu começarei a ser
feliz. Quanto mais a hora for chegando,
mais eu me sentirei feliz."
— Antoine de Saint-Exupéry, O Pequeno
Príncipe
Eu sou o Ueslei Alves de Oliveira, enquanto graduando fiz parte do grupo PET- Letras da Universidade Federal da Grande Dourados, UFGD, durante os anos de 2016 e 2018. Graduei-me em Letras Português/Inglês e suas respectivas literaturas e, logo após a graduação, ingressei no Mestrado pela mesma instituição, na área de concentração: Literaturas e Práticas Culturais. De acordo com a HYPIA, Associação Internacional de Hiperpoliglotas, sou considerado um hiperpoliglota, atualmente falo oito idiomas com fluência, sendo eles: Alemão, Espanhol, Inglês, Árabe, Finlandês, Gaélico Escocês, Bávaro e Urdu, além de ter conhecimento aprofundado em: Mandarim, Estoniano, Húngaro, Sueco, Francês e Italiano. Esta minha facilidade em aprender novos idiomas me ajudou a descobrir, após os meus 28 anos, que eu sou uma pessoa AHSD e esta descoberta mudou a minha vida. Durante toda a minha existência fui um apaixonado pelos idiomas, pela diversidade e pela manifestação da singularidade da vida por meio da arte.
No decorrer da minha vida acadêmica eu só soube da existência do grupo PET/LETRAS durante um novo processo de inclusão de membros, já que eu geralmente costumava frequentar a instituição em horários mais próximos às aulas, o que me impedia de interagir com as oportunidades veiculadas na FALE.

No decorrer do processo de seleção de novos alunos, eu fui adentrando na atmosfera do grupo e pude observar a interação entre os alunos e professores e, a cada fase do processo, eu ficava mais interessado em fazer parte de um grupo desconhecido até pouco tempo por mim. Recordo-me que, logo após ser aprovado, uma onda de alegria e renovação passou por mim, ali, naquele momento, senti-me mais próximo do lugar ao qual eu objetivava chegar quando eu pensava o meu lugar na Academia.
Ao longo dos dois anos em que fui um petiano, tive a oportunidade de participar de oficinas de escrita e reescrita, cursos, palestras, eventos, voluntariados, além das trocas diárias em nossa sala. Todos esses impulsos e estímulos foram me moldando enquanto profissional em formação. Atualmente, percebo a existência de um Ueslei em constante mutação, mais autônomo, mais confiante, mais interativo. A minha relação com o grupo foi um divisor de águas em minha vida, pude me reencontrar após um período duvidoso, incerto, confuso. Estar no PET me permitiu o encontro com indivíduos distintos, ricos, pluriversais.
Quando ocupamos o lugar de alunos, há possibilidades de sermos tolhidos por essa posição, a noção de hierarquia entre aquele que ensina e aquele que aprende pode abrir crateras, distanciando sujeitos ímpares unicamente por meio de uma noção epistemológica de cadeiras. No entanto, o PET não acredita nisso, tutor e aluno não o deixam de ser, mas não o são somente. As singularidades são ouvidas, percebidas e sentidas; nunca deixei de ser eu mesmo, para além disso, pude descobrir um outro eu de mim. A nossa vida é moldada por nossas experiências, pelas pessoas que por nossa vida passam e por meio de tantas outras breves possibilidades, mas longínquas em sua ressonância. Hoje sou um professor há muito mais tempo do que fui um petiano, mas como o tempo é relativo e a sua noção está relacionada a uma percepção de cultura, distancio-me neste momento da interpretação da relação espaço-tempo, o ontem da ação é o hoje da lembrança que me leva ao ontem-hoje da emoção. Acredito que se eu não houvesse tido a oportunidade de fazer parte deste grupo, eu poderia ter sido muito mais pobre intelecto e humanamente, talvez um professor muito mais certo das minhas escolhas, muito mais fechado em mim.

Aos termos oportunidades de nos aprimorar no tempo certo, poderemos obter maiores possibilidades de romper com ciclos covardes de exclusão, de preconceito, de distanciamento. Estar professor é estar atento. Estar aluno é estar atento. Estar humano é estar atento. Não há vida sem ensinamento, não há vida sem aprendizado, não há vida sem estar vivo. Estar vivo não é ser vivo, pois ser vivo é não estar morto; já estar vivo é estar-SE. É a capacidade da autocompreensão relativa a si, ao outro, ao nós. Tais perspectivas pude desenvolver de maneira saudável no Grupo PET, ainda que muito desafiador fora, ainda que muito desafiador seja, sinto-me menos covarde em lutar pelas questões em que acredito. Estar-PET é estar atento, não há ponto de chegada, há ponto de partida, há caminhos a serem percorridos.
Hoje sou um professor universitário, não existe aula aplicada sem a marca de ser petiano. Não há medo grande o suficiente, pois pude aprender a me desenvolver, a me respeitar e a me entender junto às pessoas que nutriam os mesmos ideais. Hoje sou mais feliz e, neste instante, relembrando de tudo isso sorrio. Sorrio o sorriso da compreensão e do não vazio. O PET foi muito além do que um grupo de extensão universitária, arrisco- me a dizer que ele é um grupo de extensão viveril. Com muita alegria aceitei retornar para este lugar, quatro anos após a minha saída. Desta vez, como egresso e professor universitário, voltei ao ambiente que me fizera muito do que eu sou hoje, naquela atmosfera, pude reviver momentos. Ali, pude reencontrar parte de mim escrita em um texto desenvolvido para a disciplina de Escrita Acadêmica, naquela sala um colega leu sobre a história de um navio descrita em meu papel, reflexo da minha vida familiar. Depois de algum tempo refletindo sobre tanta coisa, venho por meio deste relato agradecer ao convite proposto pela Professora Doutora Célia Delácio, atual tutora do Grupo PET-LETRAS, minha amiga, minha lembrança saudável de tantos bons momentos. Agradeço ao respeito pelo meu tempo, pela minha história e pela partilha.
Encerro citando o autor lusitano José Luís Peixoto: “estamos aqui, o caminho também é um lugar.” Espero que este caminho seja o lugar de todos os petianos atuais e dos vindouros, espero que a educação seja o caminho para além do discurso. Desejo que ela transforme vidas que sejam capazes de transformar vidas outras. Para além de nós, porém por nós.

Vida longa ao PET-LETRAS/UFGD.
Obrigado!
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