PET- Roda de conversa com Rafael Praciel
- PET Letras UFGD
- 14 de mar. de 2023
- 9 min de leitura
Atualizado: 25 de abr. de 2023

Sou Rafael Praciel Costa, professor formado em Letras pela UFGD em 2014. Como fui da primeira seleção, o PET não existia ainda, mas sempre quis ser daqueles alunos que se envolviam em projetos da universidade. Na época, fazia Iniciação Científica (PIVIC) com a professora Thissiane Fioreto e trabalhava meio período como instrutor no Kumon. Após alguns meses, a professora Rute veio até mim e sugeriu que eu fizesse a seleção porque dizia ser um programa muito bom. Em dezembro de 2010 comecei a fazer parte do PET. O PET, como um programa que trabalha ensino, pesquisa e extensão, sempre nos envolvia em muitas atividades, mas destacarei aqui algumas que minha memória julga mais marcantes.
Clube de Leitura Lar Ebenézer
Esse era um projeto no qual trabalhávamos semanalmente. Sempre foi prazeroso e as meninas pareciam adorar quando íamos. No começo, havia um espaço bem grande no Lar com muitos livros, mas grande parte era doação de material obsoleto como enciclopédias ou até mesmo livros didáticos usados. A primeira grande ação que fizemos foi tirar todo o material que julgamos dispensável, levar para reciclagem e categorizar os que restaram. O
projeto teve seus altos e baixos, considerando o grupo de meninas (e sua rotatividade), então os desafios mudavam em relação ao interesse, perfil daquelas que já liam, outras que tinham problema de alfabetização ou não eram alfabetizadas, etc. Lembro de o PET Psicologia fazer algumas atividades com elas durante algum tempo, já que grande parte das meninas estavam no Lar por conta de violência doméstica.
Minicursos e Correção de Textos Científicos
Os minicursos nos forçaram a estudar um tema para ensinar, o que praticamente foi nossa primeira experiência docente. A colaboração do grupo era muito boa no sentido de ajudar a todos com suas apresentações, bem como os professores colaboradores de cada minicurso, indicando leitura e revisando os materiais produzidos para os minicursos. Por ter tido minha alfabetização e ensino fundamental em espanhol, posso dizer que produzir o Minicurso das Novas Regras Ortográficas foi o momento em que eu realmente estudei e aprendi as nuances ortográficas do português brasileiro.
A professora Dores me lançava muitas perguntas para que me preparasse e soubesse as respostas quando isso acontecesse no minicurso. Ministramos na universidade e também em secretarias de ensino e escolas públicas. Além da orientação individual de cada professor responsável pela pesquisa ou projeto de extensão ou ensino, tínhamos a Correção de Textos Científicos, que basicamente era uma reunião em que o petiano apresentava seu trabalho e a tutora e os colegas debatiam sobre a estrutura da apresentação. Muitas vezes havia algum professor colaborador que assistia a algumas apresentações para ajudar na correção formal, bem como do conteúdo, já que normalmente as apresentações eram feitas a partir da pesquisa que cada petiano elaborava. Isso nos ajudava a colaborar e entender o trabalho do colega, bem como a criar critérios de produção de conteúdo científico. Hoje em dia utilizo esses critérios para elaboração de material de aula, bem como treinamento para professores.

Rock Your Fears/GETFOR
A ideia do Rock Your Fears era justamente romper o nosso medo de falar inglês. Com uma fluência que variava de básico a intermediário, propúnhamos a leitura de um texto e sua discussão em inglês para trabalhar a fluência daqueles que haviam escolhido a habilitação Letras Inglês. Era divertido e muito proveitoso.
O PET fazia parte do grupo de pesquisa GETFOR e tínhamos discussão de textos com o grupo. Era muito bom porque nos reuníamos com os professores e seus respectivos orientandos de mestrado, o que fazia a discussão mais desafiadora. Lembro de uma vez ter sido escolhido para guiar a discussão de um texto junto a uma mestranda, a Karol, o que me deu muito medo, já que a bagagem de leitura dela era muito superior à minha, além do fato de ter que guiar uma discussão para um grupo que compunha vários professores também. Estudamos o texto juntos e no dia da discussão me senti mais confortável e a discussão com o grupo foi muito proveitosa.
Jogos didáticos
Com a experiência e também trabalhos desenvolvidos pela professora Rute quando docente do ensino fundamental, fizemos jogos didáticos para trabalhar ortografia. Lembro que nos ocupou muito tempo, principalmente porque tínhamos que usar o CorelDraw para fazer as peças. Estava tão empolgado na época que trabalhei no projeto até durante o Natal daquele ano. Esses jogos nos ajudaram depois em práticas de ensino no estágio e conseguimos fazer em um material resistente que poderia ser usado por muito tempo ainda. Além disso, a experiência de trabalhar estratégias de ensino de ortografia foi muito boa porque aprendemos muito.
Viagem Cultural
A primeira foi feita a Assunção, depois a São Paulo, Goiânia, Brasília e Corumbá. Algumas foram somente viagens culturais, mas todas as vezes que tínhamos alguma viagem para evento científico, a tutora e os petianos se organizam para fazer uma programação cultural da cidade e assim aproveitar a viagem. A professora Rute sempre se preocupou muito de que tivéssemos a melhor experiência possível e que conhecêssemos o máximo que a cultura
local pudesse nos oferecer. Hoje em dia, nas reuniões esporádicas que fazemos com o grupo de ex-petianos durante o ano, sempre lembramos com muito carinho de todas essas experiências, e sempre tem uma versão diferente de como algo realmente aconteceu. Recontadas, as narrativas são sempre novas.
A viagem a Assunção foi linda! Como fomos em 2011, o Paraguai estava em comemoração
do bicentenário de independência e havia muitas atividades próprias da data. Visitamos lugares importantes que me fizeram lembrar de feitos e personalidades históricas do Paraguai, país no qual cresci e estudei por tantos anos. Foi muito bom relembrar e conhecer muitas coisas que não havia aprendido ou que por ora esquecera. Aproveitei a oportunidade e fui a um sebo encontrar livros em espanhol que não conseguia encontrar em Dourados, e foi lá que consegui comprar romances de uma das minhas autoras favoritas, Isabel Allende, bem como clássicos em versão em espanhol de A Cor Púrpura, Tomates Verdes Fritos e uma biografia de Josefina Plá. São Paulo talvez tenha sido minha viagem favorita e acredito que a de parte dos petianos também. Foi a primeira vez que grande parte de nós estava viajando de avião e isso, costumo dizer, foi um dos letramentos que o PET promoveu aos alunos.
A professora Rute nos passou todos os cuidados e ao que precisávamos estar atentos em cada passo, desde o peso da mala, o check-in até que roupas levarmos para os lugares que iríamos e a temperatura que faria. O meu espanto foi saber que as malas esperariam sozinhas por nós em SP naquela esteira imensa, o que me causou certo estranho e me fez pensar que a viagem em ônibus era mais segura, já que as malas recebiam um código de identificação. Ao pegarmos 2 táxis, chegamos à casa do filho da profa. Rute, o Pedro, uma pessoa tão bondosa e inteligente quanto a mãe, que nos recebeu como se fôssemos velhos amigos que não via há um tempo, embora só tivéssemos tido contato com ele em uma palestra que nos deu no PET, alguns meses antes. Ele já havia comprado um monte de comida que sua mãe havia pedido e que nos serviria para os dias ali, para evitar quaisquer gastos, já que a professora queria que gastássemos somente com aquilo que quiséssemos, não com o que precisássemos, então foi quando comprei, na livraria mais linda à qual já tinha ido, a Livraria Cultura na Av. Paulista, meu livro O Hobbit.

Acompanhei a aventura de Bilbo na volta a Dourados. Por incentivo do Programa, conseguimos comprar entradas para o musical A Família Adams, no incrível Teatro Abril, uma experiência que nenhum de nós havia tido e ao qual já havíamos nos preparado, já que a professora nos havia dito que levássemos roupas mais formais para a ocasião. Lembro de os integrantes do Roupa Nova estarem assistindo à peça e pessoas muito bem vestidas. Nunca imaginei que pudesse estar em um lugar como aquele e assistir a uma peça como aquela um dia. Saímos às pressas depois para não perder o metrô, já que era nosso principal meio de transporte e o qual todos nós adoramos pela velocidade que conseguíamos chegar de um lugar a outro - também outro letramento.
O Pedro nos avisou que sempre deixássemos a esquerda livre na escada porque os paulistanos estão sempre com pressa, uma característica do sujeito pós-moderno multifacetado de Hall, como citaria a profa. Gicelma. Nos dias que seguiram, fomos à Estação da Luz, Museu de Língua Portuguesa (meu favorito), MASP, Pinacoteca, Museu de Arte Moderna (que tinha o que parecia uma aranha girante exposta na época), andamos pelo Parque Ibirapuera e fomos a sebos num bairro que não me recordo o nome, mas no qual também tivemos a oportunidade de comer em um restaurante chinês enorme e cujas atendentes eram todas chinesas. Também visitamos um estádio e lembro de ser um pouco longe porque pegamos metrô e também ônibus para chegar. O clima frio e nublado de julho em São Paulo deixou a viagem ainda mais bonita. A viagem a Goiânia e Brasília foi uma só. O Simpósio Mundial de Língua Portuguesa aconteceu em Goiânia e fomos juntos participar e apresentar nossos trabalhos de pesquisa. Em um dos diálogos tivemos a oportunidade de conhecer as autoridades mais importantes de pesquisa de Língua Portuguesa como Marcos Bagno, Maria Helena de Moura Neves, Ataliba de Castilho e o mais representativo ainda, Evanildo Bechara. Foi o diálogo mais esperado por todos os participantes do evento que aconteceu na UFG, uma universidade muito grande e muito bem estruturada. O evento foi muito bom.
Em Goiânia ficamos na casa de um primo de uma das petianas, então não gastamos nada com estada. Em um dia livre fomos a um parque de diversão público da cidade no qual nos divertimos muito. Também visitamos uma feira de roupas baratas muito famosa na cidade. Em Brasília, nosso guia foi o esposo da professora Rute que alugou uma kombi para levar a todos os lugares mais importantes da cidade. Fomos ao hoje muito famoso Coco Bambu, e aos que não tinham sentido a diferença de classes lá na viagem a São Paulo no teatro Abril, conseguiram sentir agora com os carros estacionados quando saímos do almoço. A professora e seu marido nos deram o almoço de presente. Depois passamos o dia visitando os pontos turísticos da cidade como a Catedral de Brasília, o Congresso Nacional (e lembro de uma colega tocar na bandeira do nosso estado e logo em seguida o guarda dizer que aquilo era proibido), Palácio do Planalto e em frente ao Palácio da Alvorada para tirar foto com as carpas. A última viagem da qual me recordo foi a Corumbá. Era para o ECOPET e fomos em um ônibus com petianos de vários cursos. Lá a experiência foi muito legal porque tive a oportunidade de fazer um minicurso de robótica e programamos um robô para ler uma linha e depois fazer parte de uma competição. O mais legal foi que trabalhar com pessoas de outros cursos fez com que eu entendesse um pouco mais sobre o que e como estudavam. Em Corumbá havia um evento da América Latina e estavam com a agenda cultural repleta de atividades. Em um dos dias fomos ao show da Ana Carolina. Com os queridos petianos de Geografia, nos arriscamos em ir à Bolívia, já que seria somente cruzar a fronteira de ônibus. Passamos algumas horas lá e depois voltamos.
Além de todas as viagens, também tínhamos nossos projetos de pesquisa que eram orientados por professores do curso e alguns desenvolviam com a tutora também. Em toda oportunidade de evento, fazíamos inscrição para apresentar nossa pesquisa e vez ou outra publicar. Participar e trabalhar em eventos era uma prática muito rotineira que a professora nos incentivava porque melhorava o currículo e nos dava experiência também.

Carreira Acadêmica
Antes de acabar a graduação, no último ano, fiz minha seleção para o mestrado. Fiquei feliz por ter ido muito bem na prova e ainda mais por ter conseguido a bolsa graças aos projetos que desenvolvemos no PET. Logo no primeiro ano do mestrado, comecei a trabalhar como professor de inglês em uma escola de idiomas, com uma turma uma vez na semana. No término, comecei a atuar como professor em um projeto para os alunos da rede pública municipal e hoje estou há mais de cinco anos como coordenador em uma escola de inglês e espanhol.
Em minha experiência como professor e coordenador de curso de idiomas, uso tudo aquilo que aprendi no curso de Letras e no PET em prol do desenvolvimento docente. Já trabalhei em semana pedagógica com meus professores a experiência do curso de Fonética e Fonologia que uma de nossas colegas (Simone, depois Juliana) preparou, o que ajudou a equipe de instrutores a analisar fonemas da língua inglesa, bem como a troca conhecimentos de língua a partir da bagagem de leituras e experiências docentes e culturais que tiveram. Já fizemos reflexões sobre escrita, fala e constituição da linguagem para pensar o papel do professor de idioma na formação dos alunos. O PET foi grande parte da minha graduação. Praticamente todas as experiências de projetos e trocas se deram por meio dele. Sem o PET, minha formação não teria sido a mesma.
Agradeço o convite da professora Célia para contar um pouco sobre minha experiência do PET que, certamente, foi a melhor que tive na graduação e uma das épocas mais felizes da minha vida. Minha gratidão aos professores que direta e indiretamente estiveram ligados
ao Programa durante meu tempo de petiano e, especialmente, deixo aqui meu imenso carinho, admiração e agradecimento à profa. Rute Conceição, a pessoa mais importante na minha formação como professor.
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