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PET - Roda de conversa com Blanca Flor

  • Foto do escritor: PET Letras UFGD
    PET Letras UFGD
  • 17 de mar. de 2023
  • 7 min de leitura

Atualizado: 27 de abr. de 2023


Minha história no PET Letras da UFGD começa em 2011, quando fui apresentada ao Programa logo que entrei como acadêmica de Letras e eu não liguei muito para a divulgação que estavam fazendo em um primeiro momento.

Fui conhecer o universo do Curso, com professoras novas, disciplinas novas e o universo da Linguística. Me encantei à primeira vista com a Linguística I lecionada pela professora Maria das Dores Marchi e com a disciplina de Gêneros de Textos Científicos com o professor Adair Gonçalves e sua monitora Karol Couto.

Aos poucos, nas conversas dos corredores e também compreendendo mais a rotina do Curso e com um conhecimento maior sobre a disponibilidade de bolsas de estudo e aperfeiçoamento na graduação que eu fui conhecer o que era fazer ciência e se tornar um pesquisador. Vi que estavam organizando naquele ano uma viagem cultural para Assunción no Paraguai e pensei “Que bacana! Conhecer o país do lado aqui”, eu que já conhecia a língua espanhola por ser filha de imigrante peruano.

Cursei meu primeiro ano de Letras focada e ajustando meu horário de sono, pois eu havia acabado de sair de um Ensino Médio totalmente tensa e estudando no período matutino/vespertino para me adaptar ao horário noturno. Na minha ideia que ia estudar só no noturno. Mal sabia que a minha sede pelo conhecimento da língua portuguesa ia querer se direcionar para estudar às tardes. Enfim, no segundo semestre de 2011, quando estava aberta a seleção para novos bolsistas do grupo PET Letras, uma voz na minha cabeça dizia para eu fazer a inscrição e só viver o que eu precisava para viver durante o curso e me aperfeiçoar como acadêmica. Eu confesso que estava com sangue nos olhos quando escrevi aquela prova, queria ser a melhor ali naquela prova. Nem lembro quanto eu tirei, só sei que foram algumas laudas. Do que eu estudei compreendi que os bolsistas tinham uma série de atividades para fazer, de ensino, pesquisa e extensão e que poderiam fazer atividades extras que o próprio curso de Letras e a UFGD necessitavam.

As primeiras atividades dentro do programa juntamente com a tutora professora Rute Izabel Simões Conceição foram: pensar em um relatório das atividades que o grupo executou em 2011 e pensar para o planejamento das atividades para o ano de 2012. Nessa época eu tinha acabado de ser ouvinte das colegas bolsistas. Havia realizado o curso de fonética e fonologia de língua inglesa. Aprendi a redigir diferentes textos para o blog e as redes sociais do grupo. Cada tarde que eu ia para a sala do PET, eu me sentia muito útil como acadêmica e também como uma acadêmica presente na vida da UFGD. Quando participei dos eventos entre os grupos pets da UFGD fui entender o quão complexo eram realizadas essas atividades em prol da do avanço da ciência como um todo da instituição. Os eventos Ecopet, Econpet e ENAPET são e foram eventos que fortaleceram o Programa anualmente.

Em 2013 em uma viagem para apresentação de trabalho na UFMS do campus de Corumbá apresentamos eu, Rafael Praciel Costa, Gabriela Prado de Oliveira e Juliana Libório Rodrigues um trabalho que realizamos de leitura para o lar Ebenézer da cidade de Dourados/MS e que foi premiada como um como melhor banner da área de Letras.



Esse foi um trabalho do nosso projeto de extensão coletivo do grupo todo e que foi mais marcante para mim, pois foi uma ação que durou anos de reconstrução da biblioteca do orfanato e também um impacto social relevante de Letras de levar leitura para meninas que sofrem com abandono e violências diversas. Esta ação foi a que mais impactou no meu percurso acadêmico, de levar a alegria e o mundo encantador das letras, juntamente com acadêmicos de Artes Cênicas e da Psicologia, das raras vezes que conseguimos ação conjunta. Lembro muito bem de uma menina de 6 a 7 anos chamada Aline que sempre vinha sentar no meu colo e pedia para eu ler uma história para ela de algum conto ou alguma história de aventura, porque ela se identificava com essas histórias. Então para mim foi uma viagem ao mundo dos livros e das histórias diversas que estávamos construindo como acadêmicos bolsistas e também construindo novas histórias de vida com essas meninas a se interessarem pela leitura. Acredito que a nossa presença continuada em anos foi muito marcante para este lar. Lembro que com os petianos mais novos da seleção de 2012 também de 2013 houve alguns momentos em que a gente não pode executar a leitura ou a dramatização de algumas histórias que a gente já vinha preparando para os encontros para ajudar as meninas nas provas de recuperação da escola, e isso frustrou um pouco o nosso trabalho. De um modo geral, eu me via como acadêmica de Letras que teve um impacto socialmente importante na vida escolar dessas meninas. Em 2014 houve um pouco de dificuldade dentro do grupo para poder se deslocar para o lar Ebenézer E aí foi um ano que não podia atuar firmemente, pois estava em finalização de curso.

Em 2013, na mesma oportunidade de representar o grupo em 2013 em Corumbá sobre o trabalho de Leitura no Lar Ebenézer, também aproveitamos para curtir os shows da Ana Carolina, do Seu Jorge e do Cidade Negra gratuitos no Festival América do Sul. Outro lado que pude desfrutar como acadêmica e bolsista do PET Letras foram essas atividades culturais. Naquele festival houve exposições de pequenos artesãos e microempresários e a gente aproveitou muito para comprar e levar lembrancinhas para amigos e parentes.

Outras viagens de representação do grupo em outras cidades e que marcaram muito minha vida acadêmica foram as viagens que fiz para São Paulo, Goiânia e Brasília. Pode perceber que a minha narrativa não é nada cronológica e sim de um percurso psicológico que vai e volta das atividades que mais me marcaram no PET.

Em São Paulo em 2012 realizamos a viagem cultural em que conhecemos o MASP, o MAM, o Museu do Futebol, a Pinacoteca, além do Museu da Língua Portuguesa. Todas as nossas idas aos museus me marcaram pela sensibilidade com as artes plásticas, o mundo do esporte e também o meu fascínio pela língua. E sobre o meu olhar para outras questões que hoje fazem diferença no meu modo de ensinar, pois vejo muito presente a relação da linguagem não verbal com o verbal, principalmente pelo audiovisual, pela sensibilidade em analisar obras artísticas variadas, além também do meu gosto pela música. Tudo isso faz parte do meu modo de ensinar, porque eu atuando hoje como professora de língua inglesa, se eu não trago algo relacionado à cultura, história, artes, memes ou uma música ou um vídeo, não me sinto atuando como uma boa professora. Então esse ano de conhecimento em São Paulo, além das idas ao teatro, o musical da Família Addams e a apresentação que rendeu boas risadas "Aquilo que não cabe no caixão" no teatro Ruth Escobar, só permitiram aumentar meu fascínio pelas artes de um modo geral e isso eu trago constantemente na sala de aula.

As viagens para o Estado de Goiás em Goiânia me marcaram principalmente no IV Simpósio Mundial de Estudos e Língua Portuguesa em que pude apresentar um trabalho individual com a professora Rute sobre as qualidades discursivas. Naquele evento em 2013, eu conheci a maioria dos gramáticos e linguistas que eu estudava na graduação e que também me rendeu a máxima do Marcos Bagno: "Mas isso não é um nome, é um poema completo” no momento de autografar meu nome numa de suas obras e com a cara de espanto. Levei a Gramática Pedagógica do Português Brasileiro para ele autografar, obra que eu já tinha comprado antes de ir ao evento. Sim, o linguista pioneiro na discussão do preconceito linguístico, ele mesmo. Nessa viagem juntamos uma ida a Brasília e fomos de Kombi passeando pelas rodovias. Conhecemos o museu Juscelino Kubitschek, o Congresso Nacional e também a Torre de TV Digital, que eu não conhecia e que é um ponto turístico muito novo de Brasília, onde você ver Brasília inteira e o Congresso Nacional bem de longe e centralizado. Mal sabia eu que uns anos depois, já no mestrado eu voltaria a este mesmo local com um outro olhar em 2016, em um evento de língua indígenas com um olhar menos colonizador.

Além dessas cidades, pude sentir também um acolhimento meu e dos meus colegas para as inúmeras atividades que realizamos para o nosso Curso de Letras e para a UFGD. Me marcaram os eventos da Semana de Letras e também atividades relacionadas à divulgação do Curso, nas Faculdades Abertas. Quando havia alguma atividade cultural, show e/ou apresentações do curso de Artes Cênicas e no próprio estacionamento da FACALE, eu e o grupo participamos como organizadores de evento. Atividades de pesquisa como o Encontro Diálogo entre Letras - EDEL e também os eventos do ENEPE/ENEPEX também me marcaram como acadêmica comprometida com meu lado artístico, científico e reforçando sempre meu lado linguageiro de ser. Meu mundo acadêmico foi tão valioso e significativo para mim, que diria que desfrutei 110% da vivência da UFGD. Participei de oficinas de extensão no CEUD, representei os grupos PET da UFGD nas reuniões de tutores, e em muitos momentos me vi participando integralmente nas atividades culturais inseridas no calendário da UFGD.

Como petiana e depois como egressa, vi a profissional que me tornei como uma profissional mais realista, que faz aulas mais engraçadas, objetivas, com foco no aluno, que está um pouco limitada fisicamente, mas que observa hoje a lacuna ou a falta de profissionalismo de outros profissionais, para sempre acertar no que um dia fui. Hoje estou com um olhar mais humilde e menos pressionado, sempre no tempo mais tranquilo e sem pressa, com maturidade e comprometimento do que a minha carreira exige de mim fisicamente e mentalmente, buscando o máximo de saúde ergonômica e saúde mental. Intelectualmente busco maior constância, sem perder de vista tudo que estudei e hoje compreendo muito melhor como as instituições públicas funcionaram naqueles meus anos de graduação e como funcionam hoje na minha vida. A vida de bolsista também. Fez muita diferença na minha vida profissional. Espero que o meu relato possa mudar as perspectivas de quem está neste caminho e não sabe ao certo onde vai chegar. Um dia chega e você poderá ver a imensidão das coisas que pode construir com as ações acadêmicas. Como falante desta língua, portuguesa, brasileira, pós-colonial, que reconhece as fraquezas discursivas e as vozes das minorias, há sim muita potência na palavra. Basta usá-la. Usá-la para mudar realidades.




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