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PET- Roda de conversa com Graziela Barp

  • Foto do escritor: PET Letras UFGD
    PET Letras UFGD
  • 15 de mar. de 2023
  • 7 min de leitura

Atualizado: 27 de abr. de 2023

Um programa de extensão na Universidade Federal pode agregar também pesquisa e ensino, tornando-o mais dinâmico e completo para a formação dos acadêmicos. Assim funciona o Programa de Educação Tutorial, PET, em diversas instituições nacionais, consistindo em uma alternativa para os alunos do curso de Letras da FACALE, na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados).


Ao ingressar neste programa, no ano de 2014, eu tinha muitas expectativas quanto ao aprimoramento pessoal e profissional, neste momento por ser caloura no curso de Letras e desejar aprender, cada vez mais, como a linguística, o letramento e as práticas de ensino poderiam se interpor a fim de orientar a atividade prática do professor, do escritor, do sujeito em seu discurso ou demais campos da linguagem. Estas questões e hipóteses construí a partir da minha vivência e formação profissional anterior, seja como psicóloga ou como professora de inglês, enfim, sempre exerci minhas atividades na área da educação, na escola, ensino-aprendizagem e formação de professores. Logo, ingressei no PET- Letras em minha segunda graduação, com mais de 30 anos de idade e muitos estudos de interface, pois eu já havia feito outras especializações em psicanálise, psicologia jurídica e psicopedagogia. Acho interessante expor isto para estimular a reflexão de que este programa não destina-se somente a jovens e adolescentes, ao contrário, tem muito a oferecer promovendo a cidadania, a pró-atividade, a consciência social e o trabalho em equipe reunindo alunos de diferentes gerações.


Passado o processo de recrutamento e seleção para o PET- Letras, que incluiu uma entrevista e uma sessão de contação de história, comecei a frequentar diariamente a cidade universitária além do horário das aulas curriculares à noite. Neste momento passei a conviver e interagir com o grupo de petianos em sua diversidade, sendo todos adolescentes, oriundos de Dourados e região, exceto eu. Isto seria irrelevante se não fosse considerar a necessidade de aculturação quando fazemos mobilidade dentro do próprio país, mas em regiões com hábitos e tradições diferentes e antagônicos às vezes.



Inicialmente precisei observar a rotina diária para poder me adaptar à dinâmica do grupo e suas regras internas, o que classifico como um dos primeiros desafios neste período de um (1) ano que participei do PET, porque a forma de entender disciplina, rotina, cooperação mútua, compromisso profissional ainda estavam sendo aprendidas pelo grupo, e pode-se dizer também sendo elaboradas conjuntamente. Ao referir-se a cultura, podemos compreendê-la nas “maneiras pelas quais a realidade que se conhece é codificada por uma sociedade, através de palavras, ideias, doutrinas, teorias, práticas costumeiras e rituais. O estudo da cultura procura entender o sentido que fazem essas concepções e práticas para a sociedade que as vive, buscando seu desenvolvimento na história dessa sociedade e mostrando como a cultura se relaciona às forças sociais que movem a sociedade” (Santos, 1996, p. 35). É também passível de ressaltar-se o aspecto dinâmico no entendimento de cultura para desfazer a visão linear mais comumente expressa: “que fique então claro que para nós a cultura é a dimensão da sociedade que inclui todo o conhecimento num sentido ampliado e todas as maneiras como esse conhecimento é expresso. É uma dimensão dinâmica, criadora, ela mesma em processo, uma dimensão fundamental das sociedades contemporâneas.” (Santos, 1996, p. 41)



Envolta nesta atmosfera de formação global, ampla e de qualidade, em toda minha trajetória no PET, envolvendo tempo e espaço, sempre me dediquei na intenção de contribuir ativamente, seja divulgando meu conhecimento prévio e experiência prática como forma de incentivar os colegas a estudar e aprimorar suas habilidades, seja conduzindo o grupo com vias a buscar a reflexão e o autoconhecimento como forma de amenizar os conflitos e adversidades que surgem ao longo da vida universitária. Segundo Moscovici (1985, p.27), “a competência interpessoal é a habilidade de lidar eficazmente com as relações interpessoais, de lidar com outras pessoas de forma adequada às necessidades de cada uma e às exigências da situação”. Perceber de forma acurada uma situação e suas variáveis permite-nos desempenhar o trabalho com mais satisfação, tanto na dimensão técnica requerida pela natureza dessa atividade quanto na de ser capaz de se posicionar de forma habilidosa na rede de relações interpessoais, interna e externa, no local de trabalho. Nesse movimento da dinâmica do grupo, Moscovici descreve algumas formas de manejar os conflitos existentes: evitar o conflito, reprimir o conflito, aguçar as divergências ou transformar as diferenças em resolução de problemas.


Esta ampla troca de experiências foi gratificante no andamento do projeto, também pelo fato de aprendermos juntos, nas oportunidades disponibilizadas pela tutora nas variadas atividades vinculadas ao programa de mestrado em Letras. Isto inclui integrar o Grupo de Trabalho (GT) com professores de linguística aplicada, grupo de estudo sobre letramento e política educacional, discussões de análise dos livros didáticos, aulas magnas e aprofundamento na pesquisa e conteúdo sobre o ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa no Brasil. Neste campo, estudamos detalhadamente os conceitos desenvolvidos por Emília Ferrero, a interlocução destes com os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), discutimos alguns conceitos usados em pedagogia elaborados por Piaget e Vygotski.


Essa compreensão teórica das práticas de letramento e suas possibilidades de aplicação foi testada em atividades dirigidas à comunidade como: a oferta de minicursos para professores da rede de ensino e aos acadêmicos e no incentivo à leitura e contação de história no projeto de acolhimento de crianças afastadas da família judicialmente. Nos minicursos, a proposta era divulgar as regras gramaticais (pontuação, acentuação e escrita) de maneira acessível e também envolver os integrantes do PET enquanto oradores. O minicurso de pronúncia e fonética na língua inglesa, visava fornecer recursos linguísticos para que os estudantes de língua inglesa aperfeiçoassem a pronúncia e compreensão auditiva, aprimorando desta forma sua comunicação e uso da língua. A oficina no modelo de workshop utilizando os Jogos Didáticos, desenvolvidos por grupos anteriores do PET- Letras, era mais direcionado a professores em formação, como forma de sugestão de atividades interessantes para desenvolver habilidades requeridas no letramento.


Sobre o projeto de contação de estórias infantis, no Lar Ebenezer (uma instituição filantrópica que se dedica a acolher e garantir proteção integral das crianças e adolescentes, menores de 18 anos que tiveram seus direitos violados e que se encontram em situação de risco e vulnerabilidade social), há que se destacar o envolvimento de cada indivíduo (integrantes do Pet e as meninas abrigadas) na atividade. Em minha opinião foi extremamente enriquecedor para todos, a possibilidade de poder desenvolver uma atividade para crianças que estão afastadas de seus lares, por razões de vulnerabilidade e violência e ter que manter uma postura profissional, adequada para aquele tipo de instituição, como forma de garantir bons resultados. O detalhe está em não envolver-se afetivamente, apesar dos apelos das crianças, por saber que nosso papel ali era para fins educacionais. O aprendizado está justamente em perceber as limitações de nossa ação, pois não iríamos resolver todos os problemas daquelas meninas, apenas comparecendo na instituição uma vez por semana, por algumas horas. São contingências que se não forem gerenciadas adequadamente, acaba-se reforçando a ideia de abandono, perda, privação, relacionamentos frustrantes, e outros aspectos psicológicos vivenciados por essas garotas que vivem nesse momento tentando superar tudo isso com resiliência. O intuito tem seu mérito por garantir, através da literatura, auxiliar na proposta de promover e reconstruir vínculos comunitários, portanto, ampliando a socialização e interação visando a melhor adaptação ao processo de inserção ou reinserção nas famílias de origem, extensa ou substituta.


Outro momento que dediquei intenso esforço foi motivar o estudo da língua inglesa e as possibilidades de aprendizado do idioma. Ao longo da preparação para apresentação dos minicursos, percebi que havia uma escassez de conteúdo voltado especificamente para a formação dos professores de inglês se comparado à língua portuguesa. Isto me motivou a desenvolver um minicurso sobre a escrita de resumos em inglês, os “abstracts”, por estudantes da pós-graduação e demais interessados. Direcionei a proposta mais a alunos do mestrado e doutorado por identificar a necessidade que tinham em escrever esse tipo de texto mas não ter a habilidade requerida, desenvolvida com estratégias de facilitação, dicas e estrutura do texto. Sabe-se que este gênero tem aspectos específicos que se forem detalhados podem facilitar a escrita e organização do texto com coesão e atendendo à demanda requerida para publicação em periódicos e revistas e por conseguinte, divulgação das pesquisas na comunidade científica. Enquanto aluna, esse trabalho atendeu ao objetivo do Programa de Educação Tutorial de estimular o desenvolvimento de novas práticas e experiências pedagógicas e do bolsista atuar como agente multiplicador, disseminando novas ideias.


Ser aluno bolsista do PET é relevante na formação universitária pelo fato de estar mais tempo nos espaços disponibilizados pela universidade, além do horário estipulado para as aulas da graduação. Assim temos um contato sistemático com a comunidade acadêmica como um todo, que ao meu ver é um ponto positivo no sentido de favorecer o contato mais amplo e a comunicação com professores e técnicos da instituição. Essa troca de informações, a médio prazo, facilita a integração a atividades acadêmicas como: escolha de linhas de pesquisa para iniciação científica ou mestrado, atualização de conteúdos teóricos específicos e a diversificação na produção acadêmica para fins curriculares. Participando mais ativamente das atividades ofertadas, seja eventos, reuniões, cursos, etc, pode-se entender melhor o campo de atuação do profissional de Letras, por conseguinte, o que nós estudantes temos mais interesse ou afinidade para aprofundar nos estudos e ponderações.

Assim sendo, o PET, entre outros fatores, contribuiu sobremaneira para meu ingresso no mestrado e discernimento do tema de pesquisa, que foi justamente a formação de professores de inglês e a investigação de crenças. Aqui ampliei meus conhecimentos sobre crenças e emoções enquanto fatores que limitam o aprendizado ou o ensino de uma língua estrangeira, que ao serem identificados, podem melhorar o trabalho do professor e auxiliar os alunos em suas necessidades.






Referências bibliográficas

Moscovici, F. (1985). Desenvolvimento interpessoal. 3ª. ed. Rio de Janeiro: LTC

Santos, José Luiz dos. O que é cultura. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, (Coleção primeiros passos, 110) 1996.

Currículo resumido: Possui graduação em Letras Português- inglês (2022). Mestrado em Letras/ Linguística na Universidade Federal da Grande Dourados- UFGD (com bolsa Capes 2017 a 2019). Professora no ensino de Língua Inglesa, com experiência no ensino do Programa Idiomas sem Fronteiras no período de 2015 a 20017, também em escola de idiomas (2003 a 2010). É também graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2000) e possui experiência na área de Psicologia da educação, especificamente educação especial e psicodiagnóstico. Na pós-graduação, tem especialização em Saúde mental, psicopatologia e psicanálise (PUC-PR/ 2002), Psicologia Jurídica (PUC-PR/ 2007) e Formação em Terapia Cognitivo Comportamental (ITCC/ 2016).


Petiana egressa entrevistada: Graziela Barp (grazie.b@gmail.com)

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