Vamos combinar de não nos esquecer

Quando chegamos ao mundo, por mais que a gente tente ou queira, ninguém pode nos preparar para o que a vida há de ser. Sentimos muitas vezes como se não pudéssemos estar mais despreparados para estar aqui. Os dias passam e as dúvidas que antes eram resolvidas facilmente, agora já não têm mais respostas suficientes; sobram perguntas ao fim do dia. Aguardamos insistentemente o dia em que saberemos tudo, em que não precisaremos pensar duas vezes ou apelar para o uni, duni, tê para tomar uma decisão. Durante a juventude, pensamos que estamos apenas crescendo com o passar dos anos, mas um dia percebemos que além de crescer, estamos envelhecendo também — e, apesar de mudar muito, a vida continua sem explicação. Ainda não sabemos o suficiente. Ainda não estamos preparados. Ainda estamos esperando algo que nunca chega. 

Aí percebemos que a vida é única, mas também compartilhada; que a dor é única, mas também compartilhada, e que o riso é único, mas também compartilhado. Como Carla Madeira diz em Tudo é rio, há um certo milagre em cada encontro que fazemos na vida e há um certo milagre em nosso grupo PET, no qual encontramos tantas pessoas e formamos uma família. Dividimos muito durante os últimos anos, tivemos o privilégio de crescer e envelhecer um pouquinho juntos, por simplesmente não estarmos sozinhos quando o tempo começa a nos assustar. E a gente sempre pensa que vai ter mais tempo. Entre começar encerrar um ciclo, há um pequeno espaço onde habita tanto a chegada quanto a despedida. Pela mesma porta que entramos nós estamos saindo, já se foram nossos primeiros dias, nossas primeiras experiências já passaram. Agora, fica com os que estão entrando por essa porta tudo que construímos e vivemos.

Para nós que estamos nos despedindo e para vocês que estão chegando, lembremos de Clarice Lispector, porque depois do medo, vem o mundo. Alçamos um grande voo entrando na graduação e alçamos um novo grande voo saindo dela, cabe a nós reconhecer na vida aquilo que já está em nossos corações. Depois do medo de deixar ou começar algo novo, vem o mundo. Passamos para frente o que vem desde antes, passou por nós e está com vocês agora. Não poderíamos estar mais orgulhosos. Mesmo depois de todos os dias que passamos nesse programa, não podemos prepará-los para tudo o que podem viver, sabemos um pouquinho mais do que antes, mas a vida ainda permanece um grande mistério e, talvez, seja isso que nos mantenha interessados em viver. Foram tantas palavras, todas elas só para ter um tempinho a mais antes de chegar aqui e dizer adeus. Mais uma vez, não deu para barganhar com o tempo.

Adeus, família PET Letras. Vamos combinar de não nos esquecer.