PET-Clube da leitura: Lar do idoso
- Gabriela dos Santos Cabrera
- 6 de nov. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de nov. de 2024
Todos nós temos uma história para contar. Sobre uma cicatriz, um coração partido ou um dia que rimos até a barriga doer. Algumas foram em dias de muito sol, tanto que a pele chegou a arder, outras, em dias muito frios, quando duas meias não conseguiam esquentar os pés gelados. Dias comuns acontecem um após o outro e, dentro de algum tempo, percebemos a vida passando, algo de fato vai se criando. Os cabelos brancos apontam o desconhecido, são novos tons se adicionando à paleta de cores. Cada um vai vivendo sua vida, fazendo suas escolhas e, de repente, nos encontramos, passamos a fazer parte um da história do outro. Para o nosso grupo, um desses momentos foi 10 de outubro de 2024. Numa tarde de muita chuva, no Lar do Idoso, em Dourados, realizamos uma de nossas atividades, o PET-Clube da Leitura.
Nós organizamos apresentações de teatro de fantoches, adaptamos algumas histórias nos últimos meses, como A história da dona baratinha e O mistério da pedra que andou, já O baú do Seu Machado foi uma peça teatral, e Cínio e o Parlamentar foi uma criação a partir da história de Cínio. Devido à chuva, tivemos empecilhos para nos acomodar no local, alguns idosos não tinham acesso à área de convivência sem se molharem, também alguns não queriam sair do seu quarto devido à friagem ou dificuldade de locomoção. Mas diante da possibilidade de cancelar o encontro e mesmo perdendo parte dos nossos fantoches pela água, o grupo se uniu e procurou soluções. Com muita resiliência e criatividade, algumas adaptações foram realizadas da forma planejada, com os bonecos de sucata e utilizando os bancos do próprio Lar do Idoso para apoiar a empanada, enquanto outras foram realizadas sem os bonecos, ou seja, somente a contação de história, com um petiano sentado em uma cadeira ao lado do banner do PET Letras. O grupo da apresentação de teatro demarcou os espaços de atuação e apresentou a história da forma que foi idealizada.
Depois desse momento lúdico de conexão e risadas, abrimos para que os idosos presentes pudessem contar suas próprias histórias, um deles até mesmo cantou para nós. Compartilhar a vida que criamos ao longo dos anos, nos lembra do quão humanos somos e o quanto não somos tão diferentes assim como pensamos. Mesmo histórias que parecem de livros estão próximas, como a da senhora que dedicou sua vida a trabalhar e prosperar, tornou-se uma grande costureira, até mesmo com carreira no exterior, mas mais tarde, sem filhos, foi abandonada pelo marido que levou seu dinheiro. Ela está há mais de 80 anos juntando dias comuns, hoje expondo os desenhos que pinta nas paredes do seu quarto, dançando quando uma música toca, colecionando cremes e perfumes, comprando tênis pela primeira vez na vida. Todos nós nos encontramos naquele dia, depois de 20, 40, 60, 80 anos vivendo, algo deixamos e algo levamos.
Para finalizar esse post, não há como falar dessa experiência sem mencionar a extensão universitária. Para os que ainda não compreendem a importância de realizar atividades voltadas à comunidade, espero que esse texto esclareça um pouco a necessidade dessa troca. É preciso formar profissionais capazes de entenderem sua profissão para além dos livros, das aulas cotidianas e dos prazos irrevogáveis. Essas práticas tendem a nos engessar. Por isso, a extensão cumpre um papel sem igual de apenas colocar um ser humano diante de outro ser humano. Carl G. Jung diz:
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana”.
Nossa atividade PET-Clube da leitura nos permite aprender isso na prática. Agradecemos ao Lar do Idoso por nos receber e esperamos nos encontrar novamente em breve.
Revisado por Geovanna Lima
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