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PET - Roda de conversa com Gabriele Cerzósimo

  • Foto do escritor: PET Letras UFGD
    PET Letras UFGD
  • 19 de jul. de 2023
  • 5 min de leitura

Meu nome é Gabriele Cerzósimo Quinzani, natural de Ponta Porã, Mato Grosso do Sul e defendo, com todo o coração, a educação pública. Defendo o ensino público porque vivi nesse sistema durante toda a minha vida escolar e acadêmica. E, não contente, retornei a ele em 2020, enfim, como professora.

Quando criança, fui aluna de uma escola rural. Era uma escola municipal, num distrito pequeno, onde todos se conheciam e até a minha mãe foi minha professora, durante um tempo. Não por acaso, ela lecionava a disciplina de Língua Portuguesa. Nessa época, eu não tinha a pretensão de me tornar professora. Na verdade, eu não tinha pretensão nenhuma. Não me lembro de sonhar com a profissão que seguiria quando me tornasse adulta. Eu só me tornei, e isso para mim já foi uma grande conquista.

Cursei o ensino médio numa escola estadual e, após concluir, decidi prestar o vestibular para o curso de Letras na UFGD. Escolhi estar no curso de Letras, em 2016, porque senti que não havia outro lugar que eu gostaria de estar. Era uma certeza. Dessa época, carrego imensa gratidão pela minha mãe, que me ofereceu a oportunidade de fazer um curso de graduação, mesmo sendo difícil para ela.

Desde que ingressei Universidade Federal da Grande Dourados, estive, também, no Programa de Educação Tutorial do curso de Letras da UFGD (Pet-Letras). Ao longo desses quatro anos, vivi um intenso processo de aprendizagens e evolução, em todos os sentidos.

Lembro-me que, logo na acolhida dos calouros de 2016, na primeira semana de aulas, passei a reparar e a admirar os alunos que faziam parte do PET. Meu olhar para eles era de entusiasmo e curiosidade, sobretudo ao observar a capacidade de comunicação que eles demonstravam. Senti meus olhos brilharem quando vi uma menina e um rapaz de cabelos encaracolados dialogando com as pessoas ao redor. Eu, que morei na zona rural boa parte da vida e não conhecia muitas coisas sobre mim, encontrei algo que eu desejava: falar!

Naquela altura, visto que vim de uma cidade pequena, tinha me acostumado a falar sempre com as mesmas pessoas. Logo, eu nunca havia precisado me esforçar muito para interagir com estranhos. Mas, ao chegar na universidade, tive que encarar a minha maior dificuldade, a comunicação. Nessa época, me recordo de ser tão tímida, que algumas vezes perdi o ônibus para a faculdade por não conseguir estender a mão para pedir ao motorista que parasse (hoje, quando penso nisso, nem eu acredito!). Então, vi no PET uma oportunidade para desenvolver a minha comunicação e me inscrevi para a seleção logo que tive a oportunidade. Ingressei no PET ainda em 2016. E de lá, até o final da graduação, passei pela tutoria de três professoras admiráveis, Rute, Alexandra e Edilaine.

Se eu tivesse que utilizar duas palavras para definir o programa PET, eu escolheria vivência e prática, porque, no período em que estive no programa, vivenciei e pratiquei experiências valiosíssimas. Algumas delas, irei descrever a seguir.

Reuniões semanais:

Aconteciam, regularmente, reuniões semanais entre os petianos e a tutora responsável pelo programa. Antes do PET, eu nunca havia refletido sobre o que é estar num grupo. Após experiências que tive nas reuniões (e no PET-Letras como um todo), passei a fazer autorreflexão sobre como as minhas ações podem impactar o outro e como eu devo buscar ser mais respeitosa, empática e agradável ao entrar em contato com outras pessoas.

Minicursos e aulas em escolas:

Meus primeiros contatos com a sala de aula, como professora, foram no PET. Ir à escola era uma ação que visava compartilhar conhecimento com os estudantes e isso me proporcionou uma base para aplicar, na prática, o que eu estava aprendendo na teoria, antes mesmo de chegar no estágio obrigatório da graduação. Isso foi de extremo valor para que eu perdesse o famoso medo do público que a maioria dos professores enfrentam no início da carreira, além de perceber algumas sutilezas da sala de aula (como a melhor forma de escrever de maneira clara e legível na lousa, sobre como ter uma postura que cative a atenção dos estudantes, além de conhecer a organização geral de uma unidade escolar).

Visitas ao Lar dos Idosos

Visitávamos o Lar dos Idosos de Dourados uma vez por mês. O objetivo dessa visita era ouvir histórias que inspirassem textos literários, que seriam produzidos posteriormente. Nessa atividade, aprendi que valorizar a pessoa idosa não é só valorizar um indivíduo, mas também, a história de um lugar, isso porque, ao dialogar com eles, ouvi suas memórias sobre como era a cidade de Dourados no passado e isso me encantou.

Viagens culturais

As viagens aconteciam, no geral, uma vez por ano. Elas enriqueceram o meu conhecimento de mundo. Fomos visitar Cerro Corá, para conhecer o memorial da guerra do Paraguai. Fomos também para Paraty, na Flip, e para Bodoquena, onde conhecemos um pouco mais das belezas naturais do nosso estado.

Prática de ioga

A prática de ioga era direcionada à comunidade acadêmica e acontecia todas as semanas. Essa experiência me muniu de importantes conhecimentos sobre a cultura oriental, sobre o funcionamento do corpo humano e a sua relação com a saúde mental.

Participação em cineclubes

Participávamos de cineclubes em conjunto com o PET-Geografia. Uma tarde por mês, assistíamos a bons filmes e, ao final, fazíamos debates riquíssimos, sempre envolvendo um estudo teórico e científico sobre as películas. Essa experiência, em específico, me fez pensar sobre como a transdisciplinaridade é incrível quando bem aplicada.

Projeto declamando

O projeto declamando era uma proposta muito interessante, que culminava numa apresentação de declamações de poesias com estudantes e professores de escolas estaduais em conjunto com a comunidade acadêmica. Durante o desenvolvimento dessa ação, tivemos uma formação de corpo e voz com colegas das Artes Cênicas e, após a formação, visitávamos as escolas selecionadas levando as técnicas de atuação para os alunos, que ensaiavam a declamação das poesias. Fizemos o encerramento do projeto com lindas apresentações no teatro municipal de Dourados.

Por fim, após todas essas ações, refletíamos a nossa prática e desenvolvíamos trabalhos de pesquisa científica com base nos resultados de cada uma. No geral, o PET-Letras foi, ao lado da graduação, uma base sólida para o meu desenvolvimento profissional, através da pesquisa, da extensão e do ensino. Foi no PET que eu aprendi a importância dos trabalhos e eventos de pesquisa científica, a importância da extensão como forma de devolver para a sociedade o seu investimento nas universidades públicas e a importância do ensino como forma de acesso ao conhecimento, que é valioso e necessário.

Se quando caloura eu carregava um extremo incômodo só de imaginar a possibilidade de precisar falar em voz alta e expor as minhas ideias, com medo de ser mal-sucedida, o PET me ensinou a não só falar, mas a me sentir confortável com a minha própria voz. Foi no PET, na graduação e no contato com a sala de aula que eu encarei e superei a minha maior insegurança.

Hoje eu sou professora efetiva da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul e defendo, com todo o coração, a educação pública, porque fui despertada para isso através de tudo o que vivi no curso de Letras, e o PET faz parte disso. Sinto que esse programa me ofereceu um diferencial como profissional e foi essencial para a minha formação humana através das vivências e práticas. Me sinto orgulhosa por ter cursado o ensino superior numa universidade pública e ter aproveitado a oportunidade de estar num programa tão completo quanto o Programa de Educação Tutorial. Hoje, no chão da sala de aula da escola pública, busco honrar e devolver ao meu país tudo o que foi investido a mim pela sociedade durante esses quatro anos.






 
 
 

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