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O Rap dos Brô MC’s e o outro lado da narrativa

  • Foto do escritor: Rayane Paula Martins Coinca
    Rayane Paula Martins Coinca
  • 8 de abr. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 10 de abr. de 2022

Roda literária com o pesquisador Rodrigo Bento

Artista, professor e pesquisador, o trabalho de Rodrigo Bento é baseado no diálogo entre as visualidades e os estudos de cultura, sobretudo nas matrizes populares e ameríndias, atuando também na visualidade da cena junto a grupos e projetos na cidade de Dourados-MS. Rodrigo Bento Correia foi o convidado da Roda Literária de 24 de fevereiro de 2022. O evento ocorreu de forma remota, sincronicamente, em um espaço virtual e aberto ao público. O encontro foi mediado pelo Petiano Julio Cesar Britez dos Santos. Rodrigo Bento Correia é licenciado e especialista em Artes Visuaiss: Cultura e Criação pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, atualmente cursa Mestrado em Letras pela Universidade Federal da Grande Dourados UFGD na área de Literatura e Práticas Culturais, estando vinculado a linha de pesquisa de Literatura, Cultura e Fronteiras do Saber.

A conversa desta tarde inicia com a fruição de alguns clipes musicais do grupo Brô MC’s, entre eles do rap “Terra vermelha” e “A vida que eu levo”, nessa a letra diz assim: “Sou um índio sim, vou até falar de novo Guarani, Kaiowá; E me orgulho do meu povo; Esse povo que é guerreiro é batalhador; Um povo que resiste com força e com amor; Amor pela terra querida; Amor por seus filhos e filhas; Filhos e filhas, marcados pela vida; Mais de quinhentos anos uma ferida que não cicatriza”.

O grupo de Rap canta sua realidade indigena e resistência, diante de uma sociedade cheia de preconceitos. Kelvin Mbaretê, Bruno Veron, Clemersom Batista e Charlie Peixoto são integrantes das comunidades Jaguapiru e Bororó, em Dourados, Mato Grosso do Sul. O grupo tem mais de dez anos de carreira e foram confirmados para participar do festival musical Rock in Rio deste ano.

Rodrigo Bento, sob a orientação da professora Célia Regina Delácio Fernandes, desenvolve sua pesquisa de mestrado no PPGLetras da UFGD intitulada Eju orendive: as “palavras-caminho” na obra do grupo indígena de rap Brô MC’s . Na Roda ele afirma que a sua intenção não é ser a voz da cultura indígena, ou do grupo Brô MC'S, mas que ele queria estudar e pesquisar sobre a cultura indígena de Dourados. Como veio a COVID 19 e ele não pode desenvolver a pesquisa de campo com os indígenas, ele se depara com a obra do Brô MC’s, e percebe ali toda simbologia cultural, além da carga ativista e política. Assim, decide analisar essa obra, destacando toda a importância de um discurso indígena autorepresentacional.

O palestrante Rodrigo Bento Correia comenta a existência de um discurso, de um estereótipo sobre os povos indígenas reduzindo-os a "índios", desconsiderando todas as comunidades indígenas, e suas variadas culturas e línguas. Relata ainda a imagem de indígenas pelados, enfeitados com penas e demais acessórios, que representam algo que foi construído ao longo da história, por pessoas de fora da cultura indígena, pelos brancos, colonizadores. E ainda comenta as letras das músicas “Eju orendive”, “A vida que eu levo”, “Terra vermelha”, do grupo Brô MC 's e como essas letras ilustram uma realidade contrária a todo esse discurso hegemônico.

O mestrando diz ainda que a partir do momento que o grupo Brô MC's se coloca no papel de contador da sua história, por meio de suas músicas de rap, acaba por deixar de lado um discurso hegemônico, em que os indígenas têm que apenas viver dentro da sua comunidade, presos em reservas indígenas, e não explorando o mundo. E assim o rap se tornou uma ferramenta em que os indígenas são representados pela sua própria voz, e não mais apenas pelas vozes de sociólogos, antropólogos e pela literatura.

A Roda Literária dessa tarde foi muito proveitosa, participativa e enriquecedora. Foi muito prazeroso ouvir o mestrando Rodrigo Bento Correia sobre sua pesquisa e toda simbologia cultural exposta por ele, de forma a apresentar os integrantes do grupo Brô MC 's como artistas que contam sua história.


 
 
 

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