Roda de conversa com egresso - Emanuel Esdras
- Emanuel Esdras Gualberto
- 1 de jul. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de nov. de 2024
“Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”
- Liev Tolstoi
Eu sou Emanuel Esdras Gualberto de Brito, e fiz parte do Programa de Educação Tutorial de 2021 a 2023. Sempre gostei das humanidades e suas linguagens e, por isso, decidi, em 2017, iniciar minha graduação em Letras. Foi, com certeza, uma decisão marcante em minha vida, tanto por minha identificação com a área e o conhecimento adquirido, como pelas vivências, experiências e laços que construí, em grande parte graças ao PET.
Antes do meu ingresso no programa, minha vida acadêmica se resumia à rotina de estudos, leituras e presenças nas aulas. Mas como petiano, tive a oportunidade de estreitar meu laços com os colegas, professores, técnicos e funcionários da faculdade, e com isso, ter experiências de aprendizado realmente significativas que ultrapassaram aquelas que limitadas à sala de aula. Pude compreender a indissociabilidade da tríade ensino-pesquisa-extensão, que apenas quem faz parte do PET consegue vivenciar na prática. Antes, via o PET como mais um dos vários programas de bolsas de fomento à educação. Hoje, como egresso, vejo o potencial que o programa tem de promover uma formação de qualidade na vida do acadêmico e expandir sua consciência social através das atividades promovidas de forma autônoma pelo grupo. Em nosso caso, sob a excelente tutoria da professora Célia Delácio, que, com muita sabedoria, nos apontava as melhores direções, mediava os conflitos, construía pontes e, principalmente, nos ajudava a chegar aonde queríamos.
Cito três ações que considero relevantes em minha trajetória dentro do programa: a primeira ação foi o trabalho desenvolvido dentro do PET-Mídias, grupo criado pelo próprio PET-Letras da UFGD para atender necessidades que emergiram e se tornaram mais evidentes em meio à pandemia da COVID-19. Dentro deste subgrupo, cada membro era responsável por uma ação como, por exemplo, a manutenção do site, a gestão das redes sociais e do canal do Youtube, os registros das atividades, entre outros. O uso das tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC’S) foi essencial para o desenvolvimento e consolidação do PET Mídias. A consciência da importância do domínio dessas tecnologias nos rendeu dois trabalhos de pesquisa escritos em conjunto pelo grupo e apresentado nos eventos InterPet, SELF/EDEL, ECOPET e ENEPE: PET-Mídias: O uso das tecnologias digitais da informação e comunicação na formação dos petianos, e O contexto pandêmico e a inclusão digital no grupo PET-Letras.
A segunda ação, que inclusive considero ter sido uma das minhas principais contribuições para o grupo, foi a criação do podcast Perverso, o qual fui responsável desde a elaboração da proposta de atividade até a sua execução. Com o apoio do então recém criado Núcleo de Inovação e Comunicação (NIC), gravamos 4 episódios no formato entrevista com alunos e professores da FALE. Ao finalizarmos essa atividade, ficou ainda mais evidente, especialmente para mim, a necessidade do domínio das tecnologias digitais que abordamos em nossa pesquisa, e em decorrência disso, fez-se necessária uma capacitação interna sobre o manuseio de ferramentas de edição de áudio para que as formações futuras do grupo pudessem dar continuidade às publicações.
A terceira ação foi a realização da viagem cultural de 2022, que pretendo contar em um texto à parte. Mas coloco esta ação como parte relevante da minha trajetória no programa porque em meio a muitas dificuldades (o retorno do isolamento social, as inseguranças sobre questões sanitárias, a adaptação ao mundo pós pandêmico, a falta de recurso financeiro) conseguimos, com muita luta e perseverança, realizar essa atividade que havíamos proposto em nosso planejamento, votado ainda no ano anterior de forma remota. O Festival de Inverno de Bonito e as águas translúcidas do Rio Formoso nos mostraram que valeu a pena todo nosso esforço para que a viagem acontecesse. O ônibus fornecido pela universidade não só levou nós, petianos, às águas mais claras do Brasil, como oportunizou que outros alunos da graduação e do mestrado em Letras também sentissem o doce do fruto do nosso empenho. Por essas e por outras razões, posso dizer que o Pet contribuiu positivamente para minha formação. Uma contribuição não meramente acadêmica, também profissional e pessoal. Ouvir opiniões diversas, respeitar turnos de fala, escutar para entender, pois só assim conseguiríamos concretizar o que planejávamos. Planejar, replanejar, improvisar, observar, pesquisar, escrever, avaliar. Tudo isso que antes eram apenas verbos, o Pet trouxe como realidade para minha vida e que coloco em prática até hoje no âmbito profissional e pessoal.
Hoje, 01 de maio de 2024, exatamente um ano após o término da minha graduação, atuo na rede pública de ensino como professor de português no ensino fundamental 2, e como professor de tecnologia e inovação no ensino médio em uma das escolas em que fui aluno quando adolescente. Voltar para a minha cidade e trabalhar ao lado de colegas que já foram meus mestres e poder retribuir junto a eles a educação que deles recebi é o que me traz o sentimento de que valeu a pena a minha escolha quando, com 22 anos, saí de casa com uma mochila em busca de um diploma.
Termino este texto com uma breve reflexão sobre o que tenho observado nesses momentos iniciais na área. Nos tempos antigos, em conflitos tribais em busca de território e poder, a tribo perdedora se rendia à tribo vencedora passando a fazer parte dela, colocando à disposição seus modos e seus bens. Daí cunhou-se o termo tributo. No latim, tributtum tornou-se tudo aquilo que se prestava a outro por dever ou dependência. Mas à medida que essas tribos se misturavam e, lentamente, aprendiam a conviver, a palavra também se modificava. Tributar era também contribuir, retribuir, atribuir, distribuir. Para mim, a educação e o PET se encaixam perfeitamente neste conceito. Educar é um ato de tributo. Penso em seguir meu caminho na área da educação pois é onde me sinto realizado enquanto pessoa e profissional. É onde sinto que contribuo, que distribuo o que um dia me foi dado, e assim, retribuo, não por dever ou dependência, mas por movimento natural do atributo de um ser humano professor; passar adiante, com altivez, o que vale a pena ser repassado. É isto que possibilita o aprimoramento de nossa espécie.
Revisado por Geovanna Lima
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